Museu Histórico do Tocantins
Foto: Adilvan Nogueira Palacinho em reforma Visitar o Museu Histórico do Tocantins, o Palacinho, é fazer um passeio não apenas pelos primeiros momentos de Palmas. É conhecer detalhes importantes da formação do Estado do Tocantins. O Palacinho foi a primeira edificação construída em Palmas, no ano de 1989. A proposta inicial era utilizá-lo apenas para abrigar autoridades durante visitas às obras de construção da cidade. Mas com a antecipação da transferência da Capital provisória de Miracema do Tocantins para o local definitivo,o Palacinho foi adaptado para sediar a administração do Governo Estadual até que as obras do Palácio Araguaia estivessem concluídas. A construção foi sede do Poder Executivo de 1º de janeiro de 1990 a 9 de março de 1991. Abrigou ainda a Casa Civil e a Casa Militar, as secretarias do Interior, da Comunicação e da Agricultura. Também serviu, por pouco tempo, de residência oficial do Governador. Foi tombado pelo Governo do Estado pela Lei nº 431 de 28 de julho de 1992 e transformado em museu em 18 de março de 2002. Uma região para desbravar O prédio, que foi reestruturado com a intenção de propiciar fácil acesso a todos aqueles que buscam informações históricas e a apreciação dos objetos em exposição, teve sua arquitetura original respeitada. No térreo, encontra-se a sala de exposições temporárias, que vem abrigando fotografias históricas do período da construção de Palmas, mini-auditório e sala com artefatos pré-históricos. No segundo pavimento, painéis revelam a trajetória da ocupação da região e personagens de destaque na luta pela emancipação. As salas temáticas revelam traços da cultura tocantinense, através de seu folclore, festas populares e povos indígenas. Já o Gabinete do Governador foi mantido em suas linhas originais e revelam o espaço onde foram tomadas importantes decisões para a consolidação da Capital e do Estado. Pré-história - Artefatos de pedra lascada indicam a presença humana na região há pelo menos 12 mil anos. São vestígios associados a comunidades que viviam da caça e da pesca. Também foram encontrados em alguns sítios tocantinenses artefatos de cerâmica que revelam comunidades conhecedoras do cultivo entre 2.400 e 800 anos atrás. Acredita-se na possibilidade de o rio Tocantins ter servido como eixo de penetração dos grupos ceramistas vindos da Amazônia. Rio Tocantins – A história do Estado do Tocantins se confunde com a existência do rio que leva o mesmo nome. A palavra significa “nariz comprido” ou “bicudo”. O rio foi porta de entrada dos primeiros habitantes da região e tornou-se conhecido através dos franceses que o navegaram no século XVII, vindos do Maranhão. Catequese – A forte presença religiosa é uma das marcas do povoamento do hoje Estado do Tocantins. Por volta de 1625, o frei Cristóvão de Lisboa esteve na região e logo depois os jesuítas projetaram a catequização no território fundando aldeias no Baixo Tocantins, com a meta de agrupar e evangelizar os índios. Um desses aldeamentos foi a Aldeia das Missões, fundada em 1751, na região da atual cidade de Dianópolis, antes conhecida como Aldeia do Duro. Bandeirantes – Os bandeirantes chegaram à região pelo Sul, no final do século XVI. O capitão Sebastião Marinho organizou a primeira bandeira conhecida a atingir as nascentes do rio Tocantins, por volta de 1592. Novas expedições viriam sempre com o mesmo objetivo: aprisionar índios para suprir a falta de mão-de-obra escrava. Ouro – Na primeira metade do século XVIII teve início a exploração do ouro no antigo Norte de Goiás. Em 1723, Bartolomeu Bueno da Silva anunciou a descoberta de ouro na região. A partir daí, a corrida em busca das áreas de mineração levaria à criação de povoados como Natividade (1734), Traíras e São José do Tocantins (1735), Porto Real (hoje Porto Nacional, 1738), Arraias e Cavalcante (1740), Santa Luzia (1746) e Cocal (1749). Vaqueiros da Casa da Torre de Garcia D´Ávila, da Bahia, também descobriram ouro na margem direita do Tocantins. As minas goianas produziram, entre 1750 e 1754, 37,31% do ouro brasileiro, número superado somente por Minas Gerais. Em busca da autonomia A trajetória da autonomia do Norte de Goiás teve seu primeiro grande momento em 1804, quando Joaquim Theotônio Segurado foi nomeado Ouvidor da Capitania de Goiás. Junto ao Reino fez a reivindicação de medidas que incentivassem a navegação com a Capitania do Pará através dos rios Tocantins e Araguaia. Assim, o capitão general D. Francisco de Assis Mascarenhas conseguiu junto ao Príncipe Regente D. João a criação da Comarca de São João das Duas Barras, e depois a Comarca da Palma, em 18 de março de 1809. Em 25 de fevereiro de 1814, D. João autorizou a criação de São João da Palma, vila na barra da Palma, oficialmente instalada pelo Ouvidor em 26 de fevereiro de 1815. O governo autônomo do Norte de Goiás foi declarado em 14 de setembro de 1821, com capital provisória em Cavalcante. Segurado liderou o movimento e presidiu a Junta Provisória da Província da Palma até janeiro de 1822, quando assumiu cadeira de deputado na Assembléia Constituinte, em Lisboa. Foi sucedido pelo tenente-coronel Pio Pinto Cerqueira. A forte oposição do governo do Sul e as divergências internas no próprio governo da província aceleraram o fim do primeiro projeto de autonomia do Norte. Após o declínio do movimento separatista liderado por Segurado e também por Felipe Antônio Cardoso, os ideais de fomento da economia nortense foram retomados em 1868, quando Couto Magalhães fundou a Companhia de Navegação do Araguaia, com navios a vapor. O projeto foi abandonado com a proclamação da República. A retomada do movimento aconteceria nas décadas de 30, 40 e 50, em Porto Nacional. Incumbido de implantar as linhas do Correio Aéreo Nacional, o Brigadeiro Lysias Rodrigues tornou-se defensor da cultura, costumes e autonomia administrativa da região e chegou a apresentar, em 1944, projeto para a criação do Território do Tocantins, com capital em Pedro Afonso ou Carolina (MA). Outros defensores da autonomia foram o jornalista e político Trajano Coelho Neto, o juiz de Direito Feliciano Machado Braga, o jornalista Oswaldo Ayres, o professor Fabrício César Freire, os deputados Almerinda Arantes e Paulo Mareiros. Já na década de 60, o movimento foi sustentado de forma isolada por alguns membros do Legislativo estadual e lideranças estudantis do Norte, com destaque para a Casa do Estudante do Norte Goiano (Cenog), fundada em Goiânia em 15 de maio de 1960. A criação do Estado do Tocantins tornou-se realidade após aprovada a separação do território goiano por unanimidade pela Assembléia Legislativa de Goiás. Em seguida veio a aprovação pelo plenário da Assembléia Nacional Constituinte a partir da fusão de projetos anteriores em emenda redigida pelo deputado José Wilson Siqueira Campos, sendo incorporada como artigo 13 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição promulgada em 5 de outubro de 1988. Um ano depois foi promulgada a primeira Constituição do Estado, pela Assembléia Constituinte do Tocantins, reunida em Miracema. Nossos índios e manifestações culturais As salas temáticas do Palacinho revelam um pouco da história e dos costumes dos índios tocantinenses. Karajá, Xambioá, Javaé – Formam o povo Iny, pertencente ao tronco lingüístico Macro-Jê, família e língua Karajá. Essencialmente coletores e pescadores após longo período de migração se fixaram na Ilha do Bananal. Os Javaé vivem às margens do rio Javaé. Os Xambioá, ou “Karajá de baixo”, estão localizados na Reserva Xambioá, município de Santa Fé do Tocantins. A confecção de objetos de cerâmica, a pintura corporal e as bonecas ritxokô são tradicionais na cultura Karajá, assim como as festas do Aruanã e do Hetohoky, quando o menino ingressa na fase adulta. Xerente – Akwê, “gente importante”, “indivíduo”. O povo que assim se denomina vive na margem direita do rio Tocantins, perto da cidade de Tocantínia, nas Reservas Indígenas Xerente e Funil. Os Xerente também pertencem ao grupo lingüístico Macro-Jê e sobrevivem da caça, da pesca, da “roça de toco”, onde plantam milho, arroz e mandioca. Seu artesanato é produzido principalmente com a palha de babaçu e também de capim dourado, dos quais surgem cestas, balaios, redes, bolsas, esteiras, adereços. O artesanato produzido é comercializado nas cidades próximas à reserva. Apinajé - Na região Norte do Estado, em Tocantinópolis, Maurilândia e Lagoa de São Bento, vive o povo Apinajé, na Reserva Indígena Apinajé, pertencente ao tronco lingüístico Macro-Jê. Os indígenas sobrevivem da agricultura, da caça, da coleta de babaçu, do qual extraem o óleo das amêndoas e aproveitam a palha para fabricar utensílios domésticos e a cobertura de suas casas. Produzem o artesanato que comercializam nas cidades vizinhas. Entre suas tradições está a Mêkaprî, festa para fazer o espírito separar do corpo e o fim do luto; o Parkape, ritual que homenageia os mortos, e a chamada festa da Tora Grande. Krahô - As aldeias Krahô situadas na região de Itacajá e Goiatins lembram os sítios encontrados no médio Tocantins, Sul do Estado. Apresentam estrutura em forma de anel, com habitações em torno de uma área vazia. Para os Krahô, este pátio central ou Ká, representa o coração da aldeia, onde se reúnem para dividir o trabalho e tomar decisões importantes para a comunidade. Pertencentes ao tronco Macro-Jê, têm suas aldeias divididas em dois partidos – o do inverno e o do verão -, que se revezam no poder de acordo com os períodos de chuva e seca na região. Cavalhadas – A festa que relembra as batalhas entre o exército cristão de Carlos Magno e os mouros, expulsos do continente europeu no século XV, teve início em Taguatinga, no Sudeste do Tocantins, em 1937. O ritual, promovido durante os Festejos de Nossa Senhora da Abadia, nos dias 12 e 13 de agosto, começa com a bênção do sacerdote aos cavaleiros e a entrega ao Imperador, das lanças usadas nos treinamentos para a batalha simbolizando que estes estão aptos a se apresentar em louvor a Nossa Senhora da Abadia e em honra do Imperador. A apresentação solene na arena é a encenação do embate entre mouros, que se vestem de vermelho, e cristãos, com trajes em azul. No final, os mouros se convertem ao cristianismo através do batismo. Congada – Popular em todo o Brasil durante o Natal e nas festividades de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, a congada representa a coroação do rei e da rainha, eleitos pelos escravos, e a chegada do embaixador, fato que motiva a luta entre os partidários do rei e os do embaixador. Estes últimos são derrotados e batizados, e o embaixador é perdoado. De origem africana, a congada mais tradicional do Tocantins é realizada em Monte do Carmo, durante a festa de Nossa Senhora do Rosário, e com acompanhamento de mulheres, chamadas taieiras. Os dois grupos, congos e taieiras, se apresentam juntos, nas ruas, durante o cortejo do rei e da rainha. Romaria do Bonfim – Natividade e Araguacema são as cidades tocantinenses onde se realizam as romarias do Nosso Senhor do Bonfim. Em Natividade, a romaria remonta ao século XVIII, com a formação dos primeiros arraiais. Diz a lenda que um vaqueiro teria encontrado a imagem do Senhor do Bonfim sobre um toco de madeira, sempre reaparecendo neste local depois de ser retirada. Uma das origens possíveis é a criação de um santuário por fiéis ou de um núcleo missionário das irmãs carmelitas, ou mesmo jesuítas. A romaria é realizada entre 6 e 17 de agosto, no povoado de Bonfim, a 22 km da cidade, e chega a receber cerca de 60 mil fiéis durante as cerimônias. Em Araguacema, a romaria acontece no povoado do Bonfim, distante 40 km da cidade, e sua origem está ligada à família de Arcanjo de Almeida, vinda do Maranhão em 1932 e que possuía uma imagem do Senhor do Bonfim desde o século XIX. Festa do Divino – De origem portuguesa, ocorre em quase todo o território nacional, em datas variadas, desde o século XVI. Em Natividade tem início na Páscoa, com as Folias do Divino, peregrinações que fazem um giro de 40 dias por diversas localidades da região e lembram as andanças de Jesus e seus apóstolos. Os foliões representam os apóstolos, andam em grupos de 12 ou mais pessoas e percorrem casas e fazendas pedindo acolhida e abençoando com cânticos as famílias que os recebem. O símbolo maior da festa é a bandeira vermelha, com uma pomba branca de pés e bicos vermelhos no alto do mastro – o vermelho significa o amor e o ardor missionário e a pomba branca é o Espírito Santo. Na cidade, a festa é preparada através das novenas. Na noite de véspera acontece a festa do Capitão do Mastro: a bandeira é conduzida em procissão pela cidade, e após a novena é erguido o mastro, que simboliza Jesus Cristo. No domingo, o Imperador é conduzido à igreja para a celebração da missa solene. Logo depois, os participantes seguem para a casa do Imperador, que oferece doces, bolos e bebidas aos fiéis.